Amigos do CFC! Esta é a última coluna da série sobre os farrapos. Espero que gostem. Todos os textos estão disponíveis no meu link acíma.O coronel João da Silva Tavares tinha sido o único dos comandantes da Guarda Nacional a permanecer fiel ao Império. Era compadre de Bento Gonçalves, mas não aceitara o convite para conspirar e derrubar o presidente da província. Ao contrário, foi um dos primeiros a pegar as armas, em defesa das posições imperiais.
No primeiro confronto armado entre as duas forças, em 13 de outubro de 1835, Tavares comandou as tropas que impuseram uma derrota aos farrapos do Arroio Grande, perto de Pelotas. Pouco depois, com o avanço das tropas farroupilhas por toda a província, ele emigrou para o Uruguai.
Mas agora, quando a Revolução completa um ano, Tavares retorna ao território brasileiro, “com alarido, como num passeio militar, chamando a atenção dos adversários”. Ele segue às margens do Rio Jaguarão, no município de Bagé, território de Antônio de Souza Netto, a figura mais respeitada da força farrapa depois de Bento Gonçalves. Tavares faz alto junto ao Arroio Candiota. Netto sai ao seu encontro. Tavares posiciona suas tropas no topo da coxilha. Netto posta-se no baixio, depois de atravessar o Arroio Seival. Segundo o historiador Othelo Rosa, Tavares tinha 560 homens e Netto, 430. Depois das cargos de fogo, as duas forças se atracam à lança e à espada. Os imperiais levam vantagem no primeiro embate, quebra-se o freio do cavalo de Tavares, o animal dispara e causa enorme confusão entre os que lutavam. Refeitos, os homens tentavam reagir, mas o oficial que comanda o ataque é ferido na coxa, cai do cavalo e sua gente se dispersa. “Silva Tavares, completamente destroçado, deixa no campo 180 mortos, 63 feridos e mais de 100 prisioneiros”, escreve Othelo Rosa. Segundo outros historiadores, as baixas dos farrapos foram mínimas. A vitória sobre os imperiais na batalha do Seival foi tão completa, tão entusiasmante, que Netto, instigado pelos liberais exaltados de seu exército, toma uma decisão gravíssima dois dias depois. Ainda no acampamento, e diante da tropa perfilada, ele proclama a República Rio-Grandense, separada do Brasil. Netto era comerciante, criador de cavalos de corrida e tinha relações nos dois lados da fronteira. Tinha 32 anos era capitão da guarda nacional quando seu grande amigo Bento Gonçalves tomou o poder. Nas batalhas, era um valente, que avançava a frente da tropa. “melhor cavaleiro que Bento, só Netto”, dizia o italiano Garibaldi, que se incorporaria aos farrapos mais tarde.
Bento recebeu a noticia quando estava acampado em Viamão, soube da proclamação da República, da escolha da capital – Piratini, cidade a meio caminho entre Pelotas e Bagé, e que Bento era o único candidato e presidência. O chefe farroupilha, que estivera tentando retomar Porto Alegre, levanta acampamento com seu exército de mais de mil homens e se movimenta, guardando grande distância da capital. Avisado o comandante Bento Manoel Ribeiro desloca as forças imperiais para a região do Triunfo. As tropas terrestres são lideradas por José Joaquim de Andrade Neves. Jhon Pascoe Grenfell, um mercenário inglês a serviço do Império, vai pelo Jacuí com suas escunas e canhoneiras. Em 2 de outubro, Bento Gonçalves posta-se com 500 homens numa colina e atravessa o restante de suas tropas em pequenas balsas para a ilha de Fanfa.
No dia seguinte ao cruzar o Jacuí, os farrapos foram impelidos pela frota de Grenfell. No mesmo momento as forças de Andrade Neves dizimavam as forças farrapas na colina, os que estavam na ilha resistiram mais um dia. Em 4 de outubro, com centenas de mortos e feridos, obrigaram-se à rendição.
A derrota em Fanfa foi definida como um desastre, praticamente dissolveu as forças farrapos, e seus chefes principais - Bento Gonçalves, Onofre Pires, Pedro Boticário, Corte Real e Lívio Zambeccari, foram para a prisão. Restavam as forças de Netto e outras da campanha. Com a vitória de Fanfa o império julgou que a revolta tinha acabado e fez um jogo duplo: ofereceu anistia aos que a pedissem, mas ao mesmo tempo suspendeu as garantias constitucionais. Netto desconfiado decidiu continuar lutando, com tropas no Piratini para garantir a liberdade e a organização daquela novíssima república.
Depois de uma estada em Presiganga, os farrapos presos em Fanfa foram enviados para o Rio de Janeiro. Bento foi para a Fortaleza da Laje, junto com Lívio Zambeccari. Os outros para a Fortaleza de Santa Cruz. Quando Onofre Pires e Corte Real fugiram da cadeia, os imperiais transferiram Bento para o Forte do Mar, na Baía de Todos os Santos, em Salvador. Enquanto os farrapos esperavam o seu líder, os farrapos organizavam a nova nação. Em 5 de novembro de 1836, a câmara municipal de Piratini oficializou a proclamação da República Rio-Grandense.
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